sexta-feira, 30 de maio de 2014

A avareza - Tipo 5 do eneagrama.




A AVAREZA -Tipo 5 do Eneagrama
Não viverei em vão se puder salvar de partir-se um coração,
Se puder aliviar uma dor, sofrida, ou abrandar uma dor,
Ou ajudar exangue um passarinhoa subir de novo ao ninho –
Não viverei em vão.” Emily Dickinson

Parece ter concluído no começo de sua vida que o mundo não lhe dará o amor que anseia e decide arranjar-se sozinho, minimizando seus desejos.
 Distancia- se do mundo, que lhe pede mais do que lhe dá e o obs­trui mais do que o ajuda - e até certo ponto o apaga, e o esquece. Como o Siddharta de Elermann Hesse, parece dizer-se: “Sei esperar, sei jejuar, sei pensar. ”
Quino caracterizou eloquentemente a autoprivação resignada que representa a avareza no cartoon em que o vazio do ambiente se faz metá­fora de uma pobreza emocional.
Enquanto algumas paixões supõem um ir demasiado intensamente até o outro, neste caso trata-se de um movi­mento de afastamento dos demais. É correto o que assina­lou Karen Horney: que a pessoa isolada não pode mover- se até o outro em um gesto amoroso ou sedutor, nem tam­pouco contra o outro; no conflito entre essas duas tendên­cias - de amor e de agressão - acaba retirando-se do campo de batalha.
Não é cálido nem fogoso, mas tíbio; porém chega a ser uma paixão sua busca de isolamento e de solidão, seu desejo de não ser interferido, exigido. O que os outros buscam fora, ele busca dentro, ou mais além do mundo interpessoal - no simbólico, no abstrato ou no transcendente.


Não se trata somente de um caráter próximo ao medo, mas de uma forma deste: um medo de ficar vazio, de não ter, D de não ser amado, aceito, acolhido, de não poder. Apresenta uma posição de impo­tência e passividade diante da vida, ou muitas vezes uma agressividade que afasta as pessoas.
Também tem uma relação de vizinhança com a inve­ja, e pode-se dizer que compartilha com este caráter o sentimento carencial; porém se trata de uma inveja para­lisada pelo medo, por um sentimento de inferioridade que em vez de aproximar-se do outro a partir do desejo, renuncia ao que sente inalcançável.
Muito se falou na psicanálise acerca de como essas pes­soas  se desconectam de sua necessidade do outro pela fantasia de que sua magnitude seria inaceitável, incompatível com a vida, que sua voracidade e dependên­cia as levariam a “destruir” o outro; igualmente presente está o temor de ser destruído:
 sua própria necessidade colocaria estas pessoas em situação de que o outro as uti­lizasse, o que não deixa de ser verdadeiro: quando entram em relação de dependência se superadaptam ao outro de tal modo que esquecem suas necessidades e precisam re- conectar-se com seu mundo interno em solidão.
Ao pen­sar que desejar é demasiado, surge a resignação. Faz parte deste caráter dizer-se: Vale a pena fazer o esforço? Vale a pena insistir? Existe uma perda de intensidade acoplada a uma desesperança. A resignação leva à apatia. E este “Vale a pena?”
Está ligado à sua visão de mundo. Parece-lhe que não vai encontrar nada profundamente satisfatório. Antecipa o ser decepcionado como o foi quando pequeno. Sua criança interior criou mecanismos de sobrevivência, para se alimentar na carência do amor, guardar o que tem para si, é uma maneira de se abastecer... a cura para a avareza é a compaixão, o desapego e compreender que não podemos viver só para a nossa felicidade e quando nos preocupamos e cuidamos do outro estamos nos curando e tecendo a nossa felicidade compartilhada.
Pode-se afirmar que se estabelece um círculo vicioso em que a mesma proibição da avareza lhe presta uma intensidade que, por sua vez, redunda em sua negação. O tabu da cobiça engendra cobiça que, por sua vez estimu­la a proibição de querer algo para si.
 O resultado é um egoísmo culpado que não pede nada nem aceita que lhe deem o que secretamente deseja. Algo semelhante ocorre com o desejo de privacidade: complica-se com a culpabilização e, o resultado é que , para ocultar-se do outro, a pessoa acaba por ter que esquecer o próprio segredo.
À parte a resistência em dar, é próprio da “retentividade” deste caráter o não se dar, que se manifesta em estar só em meio ao que se está, ou em participar das coi­sas perguntando-se se não seria melhor reservar-se para outras. Reter para a “guerra” da vida, pode faltar e não ter a quem recorrer, guardar para se alimentar...Pode também começar a guardar o excesso para tempos de “guerra” sua casa, vira um depósito de lixo...
Igualmente resiste a expressar-se, particularmente no que se refere à comunicação de emoções. São difíceis os compromissos, como um resultado de um desejo de economizar-se para uma possível melhor inversão das próprias energias. Como resultado, o avaro é um simples observador da vida, sem apenas vivê-la e desperdiçando tanto oportunidades como talentos.
O mecanismo de defesa característico deste caráter é aquele que Freud designou como “isolamento” para signi­ficar a separação de alguns conteúdos mentais de outros, assim como a compartimentação ou separação de ideias e sentimentos. O resultado é uma boa capacidade analítica e uma dificuldade em ver o aspecto global das situações e seus significados.
Definindo tacanharia[1] como “uma ausência de gene­rosidade no que se refere ao gasto”, Teofrasto retrata o homem tacanho da seguinte maneira:
“Quando durante uma assembleia pede-se doa­ções voluntárias para o Estado, levanta-se silenciosa­mente e desaparece da assembleia (...) na festa em honra às Musas, afim de não ter que fazer nenhum desembolso, impede que seus filhos vão ao colégio com o pretexto de que estão enfermos (...) Leva ele mesmo para casa a carne que compra no mercado e os legumes na dobra de sua roupa. Permanece em casa quando manda lavar seu manto.”
Esta imagem da mais estrita economia é um pouco mais complexa que a ideia que se poderia considerar a priori, pois nos sugere que esta mesquinhez não só indi­ca o desejo de não gastar e o sacrifício dos desejos pes­soais em prol da avareza, mas também uma negação das necessidades e dos desejos dos outros.
 Em virtude desta associação, a palavra “tacanharia” não só fala de econo­mia, mas também especificamente de uma ausência de generosidade para o gasto, tal como define Teofrasto.
Como distinção da tacanharia, Teofrasto fala da ava­reza como “o afã de perseguir uma ganância sórdida[2]” e nos dá um retrato caracterológico em que, junto a estes traços tacanhos, encontra-se o aspecto cobiçoso deste tipo (que, em suma, aparece como desinteresse e resignação):
“A pessoa tomada por este defeito é capaz de, em um banquete organizado por ela, não servir pão em quantidade adequada e pedir pagamento ao hóspede que acolheu em sua casa (...) Se vende vinho, ainda que a um amigo, mistura-o com água. Leva seus filhos ao teatro no dia em que a entrada é franca (...)
Faz seu criado carregar excesso de peso e ainda lhe dá menos comida do que o restante dos amos (...) Se considera que um de seus amigos comprou algo barato, compra-o e torna a vendê-lo para tirar benefício. ”
Entre os personagens da Comedia dei Arte, talvez o que mais evoque este caráter seja um que parece caminhar sem que seus pés toquem o solo: Stenterello. Os rapazes na rua zombam de seu ensimesmamento, de suas roupas e de seu aspecto sonâmbulo. Estranhas palavras e símbolos cobrem sua jaqueta como sinal de seu interesse pela magia e os conhecimentos misteriosos. Seu nome alude à pobre­za - o que acompanha sua falta de mundanidade.
Uma historieta de Pfeifer ilumina a forma em que a ocultação do desejo que alimenta a passividade. Mostra um sujeito que explica: “Vivo em uma concha, que está dentro de uma parede, que está dentro de uma fortaleza, que está dentro de um túnel, embaixo do mar. Aqui estou seguro e tranquilo. 
A salvo de ti. Tranquilo de que não me irás perturbar." Vê-se uma mulher que passa em um bote remando por cima de tudo isto, enquanto ele continua: “Se verdadeiramente me quisesses, me encontrarias."
Este texto é resultado de uma pesquisa, inspirado em vários autores, é uma compilação.
Agradeço se ao compartilhar cita a fonte do link. 
Postado por dharmadhannya 



2 comentários:

  1. Muito bom! Obrigada por compartilhar tanta sabedoria! Abraços!

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  2. Muito grata, fico muito feliz com a sua companhia. que bom que gostou dharmadhannya

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